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sexta-feira, 14 de junho de 2019

Aqueles que querem se tornar escritores

Àqueles que querem se tornar escritores.
Dias Campos
Gostaria de tecer alguns comentários sobre um assunto que por certo deixa todos os escritores bastante revoltados. Refiro-me ao fenômeno comum de conseguirem transformar mediocridades em best-sellers.
Quem já não soube de um livro, cuja história é simplória, simplesmente pornográfica, abusiva quanto à violência, e que foi aclamado como uma revelação e elevado aos píncaros literários com a ajuda de um marketing muito bem executado?
Minha língua está fervendo para apontar um e outro autores que foram catapultados dessa maneira!...
Por óbvio que não poderei citar ninguém, pois não estou com a mínima vontade de ter que contratar um advogado.
Mas, convenhamos, isso não nos deixa revoltados?!
Isso me faz lembrar de um sujeito que conheci e que resolveu ser escritor.
Até aí, tudo bem; isso é absolutamente louvável.
No entanto, cheguei a ler um de seus livros...
Além de não saber o português – fato verificado pela só leitura dos poucos e-mails que trocamos – a história era insossa, os personagens, paupérrimos, e o epílogo... bem, tão apagado que dele não me recordo.
Mas o pior é que sua editora resolveu criar um prêmio literário entre seus autores, e o galardoou com o título de “Escritor da Década”!
Isso sempre me faz lembrar do nosso sempre Machado e do seu conto Aurora sem dia.
Nesta história, Luís Tinoco pensa que é um poeta. Mas seus textos nada tinham de belo; não vinham da alma, como apontava Voltaire.
Eram divinos, contudo, apenas para ele, que não conseguia ver quanta porcaria escrevia.
Um amigo até que tentava dar-lhe alguns toques, mas Luís Tinoco estava tão envolvido em sua “áurea poética” que sequer conseguia percebê-los.
E para que sua literatura ganhasse o mundo, chegou até a editar uma Revista, Goivos e Camélias – Machado não poderia ter escolhido melhor título.
É claro que ninguém se tornou assinante.
Daí me pergunto; daí, repergunto: Quantos Luíses Tinocos conhecemos e quantos mais teremos que suportar?
Alguns diriam que o tempo, juiz incorruptível, se encarregará de separar o joio do trigo.
Concordo plenamente.
No entanto, enquanto Sua Excelência não sentencia, o indigesto grassa.
A propósito, isso também me faz lembrar de uma entrevista com Philip Roth que li há alguns anos, em que o consagrado escritor afirmou que um bom romance leva pelo menos quatro anos para ser concluído.
Concordo em gênero e número! – Aqueles que têm bom cunho português sabem que é impossível concordar com o grau.
Mas a vida é assim mesmo. E esse triste fenômeno continuará ocorrendo.
Por isso, trago à baila alguns poucos conselhos destinados a quem nobremente quer se tornar escritor, a fim de não ser comparado àquele protagonista machadiano.
Estes conselhos tiveram a honra de integrar o livro Palavras em movimento, da escritora, editora e amiga Silvia Bruno Securato:
Quando alguém me pede conselhos sobre como escrever, seja uma crônica, um conto ou um romance, sempre retruco com duas perguntas.
A primeira, se a pessoa gosta de ler.
Se responder que sim, passo à segunda pergunta.
Mas se disser que não, recomendo que comece a ler o mais rápido possível, uma vez que todo texto produzido sem o prévio e prazeroso hábito da leitura terá pouca ou nenhuma qualidade.
Mas, então, ler o quê?
Tudo. Mas principalmente os clássicos, uma vez que será por meio deles que desenvolveremos e aprimoraremos as técnicas da escrita, e, portanto, alcançaremos o nosso estilo. Não por isso que o historiador Leandro Karnal já afirmou que “A obra clássica é multifacetada. Muda nosso lugar no mundo. Ela desafia nossos limites e revira as ideais.” (O Estado de São Paulo, Caderno 2, C8, 14/12/18).
E esse conselho é tão precioso, e verdadeiro, que já fora experimentado, e aprovado, por Fielding e Balzac.
A segunda pergunta se refere à bicicleta.
Como assim?!
Ora, pergunto àquele que quer escrever se sabe andar de bicicleta.
Se disser que não, pergunto se sabe nadar. E assim por diante, até ouvir uma resposta afirmativa.
Mas, para facilitar o entendimento, suponhamos que ele tenha respondido sim na primeira vez.
Daí pergunto como ele aprendeu a andar de bicicleta.
Ora, por certo dirá que foi subindo, pedalando, e caindo; subindo, pedalando, e caindo... Até que não mais caiu.
Pronto! Você acaba de responder como aprender a nadar, como aprender a falar em público, e, pasme! como aprender a escrever qualquer tipo de texto.
É óbvio que os primeiros textos não poderão ser classificados como best-sellers.
Mas, e daí? Será que você já começou a pedalar, a dar braçadas ou a falar em público nas primeiras tentativas?
Nem você, nem eu, nem ninguém.
Portanto, se você preenche – como eu e Silvia Securato preenchíamos –, o requisito principal (e necessário) para escrever, qual seja, se você tem vontade de escrever, agarre-se a ela, leia atentamente os conselhos contidos nesta maravilhosa obra, sente-se defronte ao computador, e escreva! Simples assim.
Com o passar do tempo, lendo e escrevendo sem parar, sem jamais desistir do seu sonho, você dominará cada vez mais as técnica-=s e os macetes de cada tipo de texto, o que permitirá desenvolver o seu estilo, e trará alegria e realização.
Mãos à obra!
Dias Campos

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